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sábado, 1 de agosto de 2009

A pimenta no mundo

Quanto mais melhor.Ela é o ingrediente que esquenta qualquer comida. No sentido figurado, é o adjetivo para tudo o que dá sabor picante à vida

POR CRISTINA RAMALHO

Ardida que ela é, sinônimo ficou de quase tudo o que levanta a fervura do corpo e do espírito. Apimentada é o que se diz da mulher que, mesmo com o corpo apagado num vestidinho sem graça, lança fogo pelos olhos. Já aquele tipo de moça sem paciência para nada, que por qualquer coisa à toa solta a voz longe e bota a mão nos quadris febris, é chamada de pimentinha. Sujeito viril de verdade é o que mastiga sem abalo a pimenta do prato. E quando os dias parecem correr sem ânimo, vamos admitir, é porque está faltando uma pimenta na vida.
Dá para dividir o mundo assim, numa psicologia barata, entre os que se arriscam ao calor desaforado, e os que não podem nem chegar perto do ardor que já começam a chorar. Tem quem adore o prato pelando, a cara vermelha a cada garfada, umas risadinhas de prazer dolorido, a comida inebriando os sentidos. E tem quem sofra de verdade e derrame lágrimas copiosas ao mastigar, desavisado, uma vermelhinha. Indiferente à pimenta ninguém fica. Em todas as culturas do mundo, ela aparece com nomes variados, tons que vão do vermelho bombeiro ao amarelo que pede atenção, e sabores dos mais ensandecidos aos de toque diabolicamente adocicado.
As picardias desse tempero que já circula, ao menos nas Américas, desde 7000 a.C., vêm descritas com humor e inteligência no livro Pimentas com suas receitas, um dicionário gastronômico assinado pelo especia-lista Nelusko Linguanotto Neto e editado pela Bocatto. Criado numa família proprietária de empresa de produtos alimentícios, Linguanotto explica variedades, mitos e questões
históricas das pimentas, além de classificá-las por anatomia, perso-nalidade, pendores da geografia e grau de picância, ilustrado por um termômetro. Cada tipo de pimenta vem acompanhado de suculentas receitas, dicas de qual é boa para o quê e umas pitadas de mitologia.

Ardida como pimenta
Existem mais de 150 variedades catalogadas de pimenta Cpsicum no mundo

Pequeno diabo
Então ficamos sabendo que Colombo, aquele que pretendia chegar às Índias, errou o caminho e descobriu a América, também perdeu o rumo de casa com as pimentas. Na verdade, os incas, astecas, maias e demais povos consumiam deste lado do Equador o chilli (pimenta hortícula), mas Colombo, que viajava para comercializar a pimenta-do-reino da Índia, batizou logo de pimenta o tempero ardido que comeu nos pratos do Caribe. Era o chilli, só que o nome pimenta – que vem do latim pigmentum, que significa pintar – pegou de vez para designar quase todos os tipos. Hoje o chilli dá nome à pimenta do gênero Capsicum (todas essas vermelhas que a gente conhece) nos Estados Unidos, enquanto nos países andinos se chama aji. Em Portugal, malagueta. Na Hungria, páprica. Para nós, ficou pura e simplesmente pimenta.
Porque simboliza a tentação e o descontrole, em muitos lugares ela é vista como coisa do demônio e, como tal, irresistível. Na Itália, por exemplo, já foi literalmente chamada de diavoletto, ou pequeno diabo, nos tempos da realeza. O avesso disso, o combate ao mal, é outro poder danado da pimenta. Olhar de gente ruim, ninguém discute, seca pimenteira. Os sacerdotes e nobres pré-colombianos usavam a pimenta nos rituais de oferenda aos deuses. Entre os índios brasileiros, as parteiras podem usar pimenta em pó, mas as gestantes, nunca. Em compensação, para proteger crianças recém-nascidas eles consideram de bom-tom pendurar uns galhos de pimenta em cruz acima do berço. Se as coisas andam meio para trás, qualquer bom brasileiro sabe, o negócio é colocar um vaso de pimenteira na entrada da casa ou da loja.
O melhor de tudo, porém, é que elas ainda fazem bem à saúde. Em vez de irritar o estômago, ensina o livro, protegem a mucosa estomacal, além de serem ricas em propriedades antioxidantes e antiinflamatórias, como defende a medicina ayurvédica indiana – vale lembrar, no entanto, que pessoas com problemas gastrintestinais devem consultar seu médico antes de consumi-las, pois em alguns casos são contra-indicadas.

Para a medicina chinesa.

Garota sangue bom

Pimenta, menina, tem vitamina: 100 g fornecem até 340 mg de vitamina C; elas ainda são ricas em cálcio e vitamina A. E ajudam no tratamento de artrites e neopatias, além de serem ótimas para quem sofre de enjôo no navio

Fonte: www.dialogomedico.com.br

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